A Perfeição Ainda Não É Real: As Limitações da inteligência artificial na moda
- Geovana Ribeiro
- 23 de abr.
- 4 min de leitura
Atualizado: 30 de abr.
Introdução:
A inteligência artificial tem transformado o universo da moda com promessas de inovação, acessibilidade e criatividade ilimitada. Modelos virtuais, roupas digitais e desfiles no metaverso já são uma realidade — como vimos no nosso artigo anterior. Mas por trás de toda essa tecnologia futurista, ainda existem limitações visíveis que desafiam a perfeição prometida.
Ao criar imagens com IA baseadas em modelos reais, percebemos um padrão de falhas recorrentes: mãos malformadas, pés distorcidos e roupas que, ao serem aplicadas digitalmente, perdem o caimento, a textura ou até a própria identidade visual da peça original.
Neste artigo, vamos explorar essas falhas com exemplos visuais reais e discutir por que a IA ainda não é capaz de replicar com fidelidade total o corpo humano e o design de moda — especialmente quando parte de uma imagem real para criar o virtual.
Quando o Virtual Encontra a Realidade: A Comparação Entre Look Real e IA
Ao testar a aplicação de um look da Shein — originalmente fotografado em uma modelo real — em uma modelo gerada por inteligência artificial com base nas minhas próprias características, foi possível observar de forma clara como a IA ainda apresenta limitações importantes em relação à fidelidade visual e técnica.
Fidelidade da Roupa
O conjunto em tom verde-oliva apresenta um design minimalista com foco na silhueta ajustada e nos cortes que valorizam o corpo. Porém, ao ser transposto para a imagem IA:
O zíper frontal perdeu sua precisão visual, especialmente na região inferior, onde parece "flutuar" ou ser colado digitalmente.
As costuras não mantêm a mesma definição e volume, tornando a peça mais “plana” e menos realista.
A textura do tecido — que na imagem da Shein tem leve brilho e profundidade — se perde na IA, ficando com acabamento fosco e artificial.
Distorções no Corpo e Anatomia
A anatomia da modelo criada por IA também apresenta distorções perceptíveis:
Os dedos da mão direita estão estranhamente alongados e mal definidos, algo recorrente em IA quando não se aplica pós-edição.
A região da virilha e do encaixe do short parece levemente “esticada”, dando uma sensação de arte vetorial, e não uma roupa vestida de verdade.
Os contornos da cintura e quadril foram suavizados de forma genérica, sem adaptar o caimento real da peça ao corpo escolhido.
Essas falhas são comuns quando tentamos aplicar roupas reais em modelos criadas por IA — principalmente quando se usa o corpo ou traços inspirados em pessoas reais. A IA ainda não consegue entender as curvas reais do corpo humano, o comportamento do tecido e como a luz e sombra interagem com a roupa de forma natural.
Na imagem 1, onde a modelo aparece de biquíni, foi gerada no Tryiton.ai. Nela, comecei testando a criação da modelo já vestindo o look, usando um prompt com imagem de referência da roupa. Porém, mesmo com peças simples e poucos detalhes, o resultado foi bem abaixo do esperado — a IA distorceu tanto o corpo quanto a roupa.
Foi então que tive uma nova ideia: e se eu criasse primeiro a imagem da modelo IA, nas poses que eu quisesse, e só depois aplicasse o look usando outro app?Essa abordagem funcionou muito melhor. Primeiro, gerei uma imagem com o corpo ideal e com proporções mais realistas — mãos bem formadas, postura natural, tudo certo. Depois, utilizei o app Creati (Android) para aplicar a roupa digitalmente. O app se saiu bem com looks mais simples, mas ainda apresenta dificuldades com peças mais detalhadas ou volumosas.
Na terceira imagem do trio, temos a modelo real usando o look original da Shein — exatamente o visual que eu tentei replicar na versão IA.
Curiosamente, a imagem onde criei a modelo ficou excelente antes da roupa ser aplicada. Mas assim que inseri o look no Creati, o resultado foi comprometido: os dedos foram distorcidos, o tecido perdeu o caimento e a naturalidade da imagem se perdeu. A IA, nesse processo, ainda não consegue fundir perfeitamente o corpo com roupas reais de forma fluida.
IA Criativa: Quando o Prompt Livre Supera a Referência Real
Apesar das limitações da IA ao tentar replicar roupas reais a partir de imagens de referência, existe um caminho onde essa tecnologia se destaca de forma surpreendente: a criação livre por meio de prompts descritivos.
Ao descrever apenas em texto o que deseja — como tipo de roupa, cor, corte, pose e cenário — e deixar a IA criar tudo do zero, o resultado geralmente é muito mais harmônico. Isso acontece porque todos os elementos (corpo, roupa, ambiente, iluminação) são gerados juntos, em vez de serem encaixados por cima de uma imagem pré-existente.
Principais vantagens dessa abordagem:
Resultados mais realistas e coesos
Formação muito mais precisa de mãos e pés
Roupas que acompanham corretamente o corpo e a pose
Criação de looks exclusivos que nem existem no mercado
Liberdade artística total para criar editoriais e imagens únicas
Mesmo com suas limitações, a IA já permite que modelos, fotógrafos e criadores de conteúdo experimentem estéticas e composições criativas sem precisar de peças físicas, locações ou equipe de produção.
Oportunidade de reinvenção para profissionais da moda
Em vez de enxergar a IA como uma substituta, modelos e artistas visuais podem se posicionar como pioneiros na fusão entre moda e tecnologia. Criar seu próprio avatar virtual e produzir imagens editoriais com moda digital, por exemplo, pode servir como:
Portfólio conceitual para marcas e agências
Conteúdo criativo para redes sociais
Exercício de branding e identidade visual
Material para estudar tendências e ideias de looks
A IA pode não substituir o impacto de um ensaio fotográfico real, mas abre caminhos acessíveis para quem quer criar, testar ou expandir sua presença de forma visual — com rapidez e baixo custo.
E quem sabe, em um futuro próximo…
À medida que a IA evolui, talvez não estejamos tão longe de um cenário onde criadores e modelos poderão vender produtos de moda com a própria imagem — de forma automatizada, hiper realista e personalizada.
Imagine poder vestir digitalmente qualquer look de uma loja, com fidelidade total ao caimento, pose e proporção, e divulgar isso como afiliado — sem precisar fazer um único clique de câmera.
Hoje, ainda existem limitações técnicas que impedem isso de funcionar com perfeição. Mas o ritmo da tecnologia é tão acelerado que essa realidade pode estar mais próxima do que imaginamos.
O futuro da moda pode não ser sobre substituir o humano, mas sim potencializar o humano com tecnologia. E quem souber dominar essas ferramentas agora, certamente estará à frente quando esse novo mercado estiver totalmente aberto.
Você acha que modelos virtuais podem substituir os humanos?
Sim, inevitável
Não, falta emoção e conexão
Talvez, em alguns tipos de trabalho
Quero usar isso ao meu favor!
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